Em 1974, líderes de 150 nações se reuniram na cidade de Lausanne-Suíça e após períodos de entendimento e reflexão declararam: “Nos arrependemos de nossa negligência em face de nossa responsabilidade social cristã, bem como de nossa polarização ingênua em termos, algumas vezes, considerando a evangelização e a atividade social mutuamente excludentes... Devemos repudiar como demoníaca a tentativa de colocar uma cunha entre evangelização e ação social”. E hoje 40 anos depois, ainda temos sido tímidos na compreensão e prática desta tão sublime declaração. Infelizmente a igreja brasileira tem sido mais reconhecida por seus escândalos do que por suas virtudes e atos altruístas, buscamos quantidade em detrimento da qualidade, anunciamos um “evangelho” antropocêntrico, onde o homem pode decretar e exigir. É paradoxal, termos 25% da população brasileira, cerca de 50 milhões de pessoas, professando a fé evangélica, um número jamais alcançado, no entanto, nunca tivemos tantas manifestações de pecado na nossa sociedade, todos os índices de criminalidade aumentaram, o governo demonstra sua impotência diante dos desafios sociais, a sociedade tornou-se refém das mazelas sociais que imperam, enquanto isso estamos mais preocupados em polir as “nove dracmas” que estão em nossas mãos do que buscarmos a “dracma perdida”, e muitos dentre os poucos que olham para as necessidades do mundo, tendem a ocupar-se ou com as necessidades espirituais enquanto permanecem indiferentes as carências físicas, ou com o atendimento das demandas matérias e sociais ao ponto de chegarem a exaustão e consequentemente ignorarem as carências espirituais.
Quando John Stott fala sobre evangelismo e responsabilidade social, ele declara: “são como duas asas de um avião, sem uma delas o avião não decola”. Deus fez o homem um ser físico, espiritual e social. Meu próximo é um corpo e alma em comunidade. Eu não posso reivindicar amar meu próximo se estou realmente preocupado com apenas um aspecto dele, seja sua alma ou seu corpo, ou sua comunidade. Apesar da questão política não ser o cerne deste texto, quero afirmar que a igreja também deve envolver-se nos assuntos políticos, por uma questão de amor ao próximo, que precisa de educação, terra e renda. Precisamos agir como um agente de transformação na sociedade.
O Senhor Jesus, o nosso modelo em todas as coisas mais uma vez nos dá a direção. Em seu ministério, palavras e obras, pregação do evangelho e serviço misericordioso, andam de mãos dadas. Suas obras expressam suas palavras, e suas palavras explicam suas obras. Deve ser o mesmo conosco. Ele nos contou a parábola do bom samaritano, onde nos mostra que a nossa missão é integral. O homem ferido é o retrato de todos aqueles que precisam, além do evangelho do Salvador, dos cuidados materiais.
É importante entendermos que jamais deveríamos ter colocado a obra evangelística e social uma contra a outra como alternativas. Ambas deveriam ser expressões autênticas de amor ao próximo. O ser humano não é uma alma sem corpo, nem um corpo sem alma. É necessário evitarmos a escolha ingênua entre evangelismo e ação social, não afirmamos que todo cristão individualmente deva estar igualmente envolvido em ambos. Isto seria impossível. Além do mais, devemos reconhecer que Deus chama pessoas diferentes para ministérios diferentes e capacita-os com dons apropriados aos seus chamados... Embora todo cristão de uma forma individual deva descobrir como Deus o chamou e o capacitou. Assim como Jesus, nós como igreja precisamos cuidar dos doentes, apoiar os enlutados, ajudar os famintos, socorrer os desamparados (viúvas, órfãos, moradores de rua, portadores de necessidades especiais), capacitar a comunidade carente, pois essas boas obras apontam para o Salvador, e assim a sociedade brasileira direcionará os olhos para o céu.
Ev. Paulo Roberto
Diretor do DEMID - IEADTC
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